Mais esclarecimentos sobre BC e intervenção no câmbio

maio 11, 2009

Há poucos dias o BC interviu no mercado de câmbio com contratos de Swap, o que acabou gerando desconfianças e especulações em vários segmentos da sociedade. Como o dólar estava caindo rápida e repentinamente, surgiram suspeitas de que a atitude da autoridade monetária estaria visando o favorecimento dos exportadores brasileiros.

No final, ficou esclarecido que o BACEN estava apenas aproveitando uma oportunidade para zerar a sua posição no mercado cambial futuro, ao qual estava muito exposto dadas as intervenções realizadas nos meses após a crise, com o intuito de segurar a volatilidade cambial e a forte alta do dólar.

Nada mais lógico. A função do BC não é ficar brincando ou especulando com o dinheiro do contribuinte, mas apenas equilibrar o mercado em situações totalmente adversas, como a que vivemos a partir de Setembro/2009 (devemos lembrar que, em caso de prejuízo do BC, quem cobre é o Tesouro, ou seja, o contribuinte).

Dias depois, o BC interviu no mercado à vista. Novas suspeitas foram levantadas. “E agora, já zerou a posição em Swap, pra quê mexer no câmbio, sr. Meirelles?”

Novamente tudo esclarecido: “BCs de emergentes defendem elevação das reservas“.

Penso que, pelo que tem realizado nos últimos anos, a gestão atual do BC do Brasil merece meu voto de confiança, durante o tempo necessário para a apuração dos fatos…

Mas fica aí uma amostra de que talvez a comunicação da instituição com a sociedade ainda possa ser melhorada!


Cinco meses se passaram… e o Brasil continua bem na foto

maio 10, 2009

“Brasil capta US$ 750 milhões no exterior com o segundo menor juro da história”, é a manchete da Agência Brasil.

É interessante que, há 5 meses, postei aqui (“Investidores internacionais têm mais segurança no Brasil“) sobre previsões contrárias de um analista estrangeiro:

“Melhora do ambiente de crédito (internacional) é temporária, diz Nick Chamie”, da Agência Estado

“Para Chamie, os países emergentes enfrentarão a concorrência acirrada com títulos de dívida de países industrializados.”

Ah sim! Sei quais!.. Aqueles que estão pagando – e irão pagar durante um bom tempo – juros nominais zero ou 0,5% ao ano, não é!? São os títulos daqueles governos em déficit na casa das centenas de bilhões e que já estão atolados até o pescoço de dívidas? Tá, entendi…

“Chamie afirmou que, no momento atual, ainda é muito cedo para que os investidores voltem a alocar recursos em mercados emergentes.”

Bom, Mr. Chamie, goste você ou não, o fato é que eles estão colocando dinheiro aqui.

Quando (como assim, ‘quando’!?) os investidores decidirem retornar aos mercados emergentes, o que deve demorar algum tempo (ahn!?), o Brasil, na visão de Chamie, não figuraria como um dos países que estariam em melhor posição para absorver esses recursos. O México, por exemplo, estará mais bem posicionado.”

Mr. Chamie… Não é o que os números estão dizendo!

Vamos ver como se comportam os investidores internacionais daqui para frente, mas, por enquanto, nada indica que o Brasil esteja mal visto assim… Pelo contrário.

Nada como um dia após o outro…


Impostos e elasticidade-preço da demanda

maio 6, 2009

O blog Coturno Noturno publicou sobre um estudo que abre espaço para uma discussão interessante (ao menos na minha opinião): “Carga tributária em presente para Dia das Mães chega a 59%, diz IBPT“.

É bastante comum ouvirmos dizer que esse tipo de coisa é “imoral, injusto”, e sei lá mais o quê. Por exemplo: remédios têm elevadíssimas cargas tributárias. Alimentos básicos também. Os itens alimentícios mais taxados são os da cesta básica. Pois é, parece realmente injusto, não é?

Mas existem explicações econômicas para isso. Estes produtos (presentes mais procurados para mães, remédios, cesta básica) têm elasticidade-preço da demanda muito baixa, por serem bens de necessidade e não terem substitutos próximos.

Elasticidade-preço da demanda indica quanto varia (em percentagem) a quantidade demandada de um produto, dada uma variação percentual do preço. Quando a demanda é mais elástica, pequenas variações nos preços provocam reduções mais do que proporcionais da quantidade demandada. E vice-versa.

Isso ocorre porque as pessoas precisam comer, mesmo que o preço da cesta básica tenha subido; precisam tomar seus remédios, mesmo que o preço tenha subido muito; e querem comprar determinados presentes para suas mães, pois a cultura impõe isso, independentemente do preço, de quantas parcelas será o financiamento ou o nível de extorsão do cartão de crédito…

Quando o governo cria um imposto sobre um produto, o preço dele sobe no mercado, reduzindo a quantidade demandada. Quando a demanda por ele é menos elástica, no entanto, essa redução é proporcionalmente menor, o que pode dar uma renda de tributação maior ao governo.

Mas essa não é a única razão para taxarmos mais os produtos de baixa elasticidade. Sim, o governo está interessado em maximizar a sua receita tributária. Mas, para a sociedade, em geral, a perda de bem-estar gerada por um imposto sobre produtos de baixa elasticidade é menor do que para produtos de mais elevada elasticidade.

Os gráficos abaixo explicitam de forma visual o argumento. Os triângulos em cinza claro indicam o que  os economistas chamam de peso-morto. É um bem-estar que existia, mas que, com o imposto, é perdido; não é apropriado nem pelos consumidores, produtores e nem pelo governo. É uma perda de bem-estar total. Veja que ela é menor no caso de uma demanda menos elástica:

(a diferença entre as linhas azuis horizontais é o valor do imposto, igual em ambos os casos)

imposto_elasticidade


A economia como ciência humana

maio 6, 2009

É interessantíssimo observar como os pensamentos humanos têm uma propensão a passar de um extremo a outro com assombrosa rapidez e facilidade: “BC: parte do mercado já crê em recuperação dos EUA“.

Há poucas semanas o mundo havia acabado…

Mais interessante é observar como estas peculiaridades da mente humana influenciam a matéria de nosso estudo: a economia!


(off-topic) Manifesto público: Revolta entre torcedores cruzeirenses, em Belo Horizonte/MG

maio 5, 2009

Fiquei sabendo, hoje de manhã, que há uma multidão de torcedores do Cruzeiro revoltados na capital mineira.

Os fatos: a emissora de TV Kalil Produções anunciou de forma maciça que faria a transmissão ao-vivo dos dois jogos do clássico da final do Campeonato Mineiro de 2009, disputado entre Cruzeiro e Patético-MG.

Milhares de torcedores cruzeirenses deixaram de ir ao Mineirão para assistir o jogo no conforto de suas casas ou em bares da capital.

No entanto, chegado o momento do jogo, a emissora de TV surpreendeu a torcida celeste com uma reprise do Campeonato Mineiro do ano passado!!!

Manifestações na região central da capital já preocupam autoridades da PM. Os torcedores do Cruzeiro estão revoltados e o Ministério Público ameaça mover uma ação judicial pública coletiva, ainda que reconheça não haver cifra indenizatória que repare os danos irreversíveis causados aos torcedores.

Este blog repudia totalmente a postura desrespeitosa e inadmissível da emissora.

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“Rivalidade? Já virou sacanagem!!”


Sazonalidade, de novo…

maio 5, 2009

Dica do Shikida: “Vendas de veículos caem em abril e no acumulado do ano“. Resolvi postar; vai que o leitor se assusta com a manchete, né…

Só tenho dados de vendas da Anfavea, via Ipeadata (não tive tempo de tabular mês a mês os dados do site da Fenabrave). Considerando os números da associação, parece que a queda no mês de abril é um movimento sazonal do setor.

Variações percentuais de abril em relação a março:
1999: -17,7%
2000: -3,3%
2001: -5,9%
2002: +4%
2003: -0,8%
2004: -12,9%
2005: -8,3%
2006: -11,5%
2007: -7,7%
2008: +11,4%


Miopia da imprensa brasileira

maio 4, 2009

O New York Times publicou uma reportagem (“Despite Recession, Fearful Brazilians Keep Armored Car Sales Booming“) sobre o aumento da venda de carros blindados no Brasil após a crise.

Discordo do advérbio usado na manchete (despite). Neste caso, faria mais sentido dizer: “devido a” do que “apesar de”, a meu ver. Isto porque podemos esperar um aumento do desemprego devido à redução na atividade econômica. E, devido ao aumento no desemprego, infelizmente podemos esperar algum impacto na criminalidade.

Como as pessoas já esperam que isso irá acontecer, compram mais carros blindados por precaução e segurança. Simples.

Ao menos o NYT dedicou uma frase para explicar isto:

“But as the economy slides and the country sheds jobs, there is a palpable dread that street crime will get worse as well, economists here say.”

Coisa que não fizeram a BBC Brasil e a Folha de São Paulo, ao citarem a reportagem do periódico yankee. Para eles, ficou parecendo que este é um fenômeno estranho e contrário à lógica de que recessão provoca queda nas vendas, invarialvemente.

“De acordo com a Abrablin, os números continuam a crescer em 2009, apesar de um primeiro trimestre com maus resultados econômicos.”

Ignoram a existência de setores anti-cíclicos, que respondem de forma inversa ao desemprenho da economia.

E ainda acham que os agentes econômicos só enxergam um palmo à frente:

“O NYT afirma que, apesar de os índices de assassinatos e roubo de veículos terem caído em São Paulo, os paulistanos apontam a falta de segurança como principal razão para comprar um carro blindado.”

Parece que a imprensa brasileira também está precisando óculos para enxergar as expectativas e o comportamento das pessoas!


Juros, inflação e custo marginal

maio 3, 2009

A Folha de São Paulo publicou uma matéria intitulada “Veja como a taxa básica de juros influencia a economia“. O intuito, pelo que percebi, foi muito bom: esclarecer à população o que há por trás destes assuntos dos quais tanto se fala, como decisões do Banco Central, inflação, taxas de juros, crescimento econômico, etc.

Vejo que este tipo de informação falta muito aos brasileiros leigos em economia e finanças, que acabam ouvindo e falando sobre o que não sabem, tendo as opiniões frequentemente manipuladas, e caindo facilmente em crenças, preconceitos e contradições.

Portanto, parabenizo a iniciativa da Folha.

Há apenas um ponto que gostaria de propor correção na reportagem, no primeiro parágrafo:

“Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e consome mais. Este aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender um consumo maior.”

Na realidade, o aumento de preços no curto prazo não é provocado pela falta de capacidade da indústria para atender à maior demanda.

inflacao_custo_marginal

O que ocorre, na verdade, é que na esmagadora maioria dos casos, as indústrias se defrontam com curvas de custo marginal crescentes.

A indústria muitas vezes tem capacidade de atender à maior procura pelos bens. Mas, dado o parque produtivo e a tecnologia de produção (ambos fixos no curto prazo), níveis de produção mais altos implicam custos marginais mais elevados também.

E isto acaba elevando o preço dos produtos no mercado, dado que um empresário racional não irá vender seu produto abaixo do custo marginal, se quiser que sua indústria sobreviva!

É por este motivo que o Banco Central muitas vezes responde às reclamações do empresariado sobre os juros altos alegando que o nível de investimentos em produção no Brasil devem ser mais elevados. Veja o gráfico abaixo:

inflacao_custo_marginal2

Os investimentos na produção e em tecnologia deslocam a curva de custo marginal para a direita, pois permite que as indústrias produzam mais com o mesmo custo. Mas é relevante esclarecer que estas mudanças só ocorrem no longo prazo, dado que este tipo de investimento costuma ter um longo prazo de maturação.

PS.: este raciocínio vale também para mercados que operam em concorrência imperfeita (ex.: monopólio, oligopólio).

inflacao_custo_marginal3


“Análise”: piadas econômicas da BBC!

maio 2, 2009

Análise: Crise financeira pode atenuar impacto econômico da gripe“. Esta reportagem me rendeu ótimas risadas!

A palavra “análise”, no início da manchete, eu achei particularmente fantástica! Muito boa a piada… (bom, eu espero que isso seja piada!!)

“Para alguns, o impacto [da gripe suína] pode ser bem grande, porque a economia global já se encontra em um estado de fragilidade por causa da crise financeira.”

“À primeira vista, este argumento parece sensato [sacou? só à primeira vista!]. Poderíamos até dizer que o sistema imunológico da economia global está muito debilitado para lidar com acabar com [sic] esta doença.”

“Mas o oposto também pode ser verdadeiro. O custo econômico do surto deste vírus pode ser, na verdade, menor do que se ele tivesse acontecido em um momento diferente. Isto porque grande parte dos ganhos de produtividade que poderiam ser perdidos por causa do vírus já foi perdida para a recessão econômica.”

“O oposto também pode ser verdadeiro”… Me lembrou aquela historinha da física quântica pra leigos: um coelho (ou sei lá qual bicho) dentro de uma caixa, antes de abri-la, pode estar vivo e morto ao mesmo tempo!

Ta aí!… Física quântica aplicada à economia! Muito bom, muito bom…

Ah, e repare os “ganhos de produtividade que poderiam ser perdidos”!

“Para colocar de modo mais simples, se, por causa da epidemia, pessoas desempregadas são obrigadas a ficar em casa por algumas semanas, isto tem um custo econômico menor do que se elas tivessem empregadas.”

É, e isso é bom porque elas não ficam frustradas por estarem desempregadas. Elas não podem sair de casa pra procurar emprego mesmo!! Gente, que maravilha!

“Além disso, se, graças à crise econômica, as pessoas já estão indo menos a restaurantes, cinemas, entre outras coisas, a queda no consumo por causa da gripe acaba sendo menor do que se ela tivesse aparecido em outra época.”

Resumindo: a coisa está tão feia, que não tem como piorar!! hahaha Não é ótimo!?

E você achou que eles acabariam por aqui?

“É claro que não podemos ir muito longe com este argumento [não se anime, continue lendo]. Qualquer pandemia que mate milhões de membros da população economicamente ativa teria um enorme impacto de longo prazo em nossa produtividade potencial [ahn!?], não importando se elas estivessem empregadas ou não.”

Meu Deus…

“Esta previsão se baseia na suposição de que a eventual epidemia tenha as proporções da chamada ‘gripe espanhola’, de 1918, que infectou quase um terço da população mundial e matou cerca de 50 milhões de pessoas. O estudo diz que um surto desta magnitude levaria o mundo a uma depressão.”

Estou começando a achar que essa coisa de jornalista querer comparar tudo com o início do século passado (1929, por ex) é uma “pandemia” ou algo do tipo!!

Olha… Pensando bem, essa gripe suína vai ser ótima! O setor de varejo e de alimentos vai faturar muito alto, pelo menos no curtíssimo prazo! Bom, depois eu explico essa minha previsão… Agora deixa eu terminar este post que tenho que ir correndo pro supermercado estocar comida!


Economia e finanças de uma forma fácil e didática?

abril 28, 2009

Recomendo muito ao leitor que conheça um novo blog de economia e finanças, mantido por ex-alunos da FEA-USP e que promete bastante!

Criado para compartilhar idéias sobre economia, finanças pessoais, educação financeira, mercado financeiro com o objetivo de ajudar aos leitores a entender melhor o mundo econômico e buscar sua independência financeira.”

Segue o link: Economia e Finanças Fáceis